terça-feira, 5 de abril de 2011

Em Linhas Gerais - Gessi Taborda

MAGNO PODE DISPUTAR

O ano de 2011 ainda está longe de chegar à metade e já tem gente esperando a chegada de 2012. Esse é o caso de alguns parlamentares que tomaram posse nessa legislatura e planejam uma eventual migração para o Executivo, especialmente em cidades importantes de Rondônia. Esse seria o caso do deputado federal Carlos Magno apontado pelos analistas políticos mais realistas como um “candidato natural” e “imbatível” na cidade de Ouro Preto.

Ontem o deputado esteve na Assembléia Legislativa rondoniense e não confirmou se essa possibilidade “é muito grande” e nem desmentiu as especulações em torno de seu nome. Magno deixou claro estar mais preocupado no momento com a estruturação de seu mandato na Câmara dos Deputados. Uma fonte próxima de Carlos Magno disse ao colunista somente lá por outubro “o deputado e seu grupo político começarão a refletir sobre essa possibilidade”. Carlos Magno age como um político gratificado por sentir “que o povo de Ouro Preto quer a sua volta à prefeitura” acentuou a fonte.

JIRAU E SANTO ANTÔNIO

A comissão de senadores presente em Rondônia para avaliar o impasse entre o consórcio construtor e os trabalhadores na construção das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio deram uma rápida entrevista à imprensa tupiniquim, na tarde de ontem, antes de retornar a Brasília, no plenário da Assembléia, sem esclarecer muita coisa.

Como já tínhamos previsto, os senadores foram motivados a vir a Rondônia depois que a notícia explodiu nos jornais e nas redes de TV de todo o país numa comissão que praticamente não anunciaria nada de extraordinário para prevenir novas manifestações de barrageiros.

Como se recorda, canteiro de obras da Usina de Jirau, uma das jóias do Plano de Aceleração do Crescimento, foi inteiramente destruído pela revolta coletiva dos trabalhadores enfurecidos. Logo em seguida, fato semelhante afetou a Usina de Santo Antônio, quilômetros rio abaixo, na mesma região. Nenhum dos parlamentares mostrou-se receptivo à idéia de que tais fatos tiveram motivação nas relações arcaicas de convivência dos capatazes da empresa com os operários.

Na verdade, um senador chegou a levantar a hipótese de que o levante poderia serviu a objetivo criminoso, pois alguns caixas eletrônicos foram roubados durante o tumulto. Em nenhum momento qualquer dos senadores mencionaram os nomes das empreiteiras e nem atribuiu a elas a responsabilidade da revolta.

REVOLTAS EM CASCATAS

Os problemas registrados na construção das barragens em Porto Velho estão inseridos num cenário de revoltas em cascatas demonstrando a existência de problemas que, pela sua magnitude, não poderão ficar sem resposta e não será a resposta dada pelos senadores no seu encontro com a imprensa, no dia ontem, que selará uma paz duradoura nessas gigantescas obras inseridas nessa coisa batizada de PAC. É bom lembrar que após o confronto de Jirau, fatos semelhantes pipocaram: quebra-quebra na usina de São Domingos, Mato Grosso do Sul; greve nas obras da refinaria em Pernambuco; tumulto em alojamentos da construção civil em São Paulo...

UM GUETO

O gueto construído no meio da mata para acomodar os cerca de 20 mil operários de Jirau foi praticamente reduzido a escombros por uma espécie de tsunami social. Escritórios, almoxarifados, centro ecumênico, refeitório, dezenas de veículos, máquinas e equipamentos, tudo destruído. Escritórios, almoxarifados, centro ecumênico, refeitório, dezenas de veículos, máquinas e equipamentos, tudo destruído. Alojamentos destruídos. Obras paralisadas. O retrato da barbárie.

Mas para os senadores vindos a Rondônia tudo agora está entrando nos eixos e as obras deverão ser retomadas “na próxima semana” depois de acordos de ajustamentos com a participação de lideranças políticas, empresariais e sindicalistas. Não senti, na fala de nenhum senador integrante da tal comissão, que alguém verdadeiramente atinou para as tensões que produziram a destruição e a brutalidade que marcou o acontecido.

EXPLICAÇÕES ESTAPAFÚRDIAS

Na verdade, até o momento nenhuma autoridade local deu explicações convincentes para a revolta de Jirau. Os senadores visitaram as obras, conversaram com os aparatos da Segurança e do setor de informações e não passaram nada de maior profundidade em sua coletiva com a imprensa. Tudo ficou parecendo com a aquela conversa dos empresários.

Para eles o papo foi briga entre operário e motorista, provocadores mascarados, disputa entre correntes sindicais e até traficantes de drogas, pois "a BR 364 é rota do tráfico". Pode até explicar alguma faísca, mais não o material inflamável que provocou a explosão. As condições de trabalho, dizem os porta-vozes do patronato, são as melhores do mundo e, ademais, o empreendimento é fiscalizado por auditoria internacional independente. Depois do que aconteceu, fica difícil acreditar em semelhante ficção.

SEM ANÁLISE

Os senadores, convidados pelo senador rondoniense Ivo Cassol, depois de um atraso de mais de uma hora para a entrevista com a imprensa local, já estão em Brasília. Certamente não fizeram a análise criteriosa para conhecer as raízes da violência que ganhou o noticiário do mundo. Não chegaram nem perto da turva explicação dada em palácio, no dia seguinte ao inicio da revolta, pelo governador Confúcio Moura; prefeito Sobrinho; representante das empreiteiras; pelegos das grandes centrais sindicais, do deputado Moreira Mendes e do deputado estadual José Hermínio, único que preferiu ficar na defesa dos trabalhadores.

Todo mundo sabe que as empreiteiras envolvidas na construção dessas barragens são grandes financiadoras das campanhas eleitorais e, em contrapartida, costumam trabalhar com carta branca.

INSUMOS

Para essas gigantes da construção, a força do trabalho é só um insumo a ser consumido e consumado na busca do lucro máximo. E os pelegos estão ali para cumprir a destinação histórica que lhes forneceu a denominação infamante. O governo quer acelerar o crescimento sem maiores indagações sobre seus impactos de qualquer tipo, ambientais, sociais e humanos. Essas barragens gigantescas, tocadas por consórcios formados pelas maiores empreiteiras do país, financiadas pelos bilhões de dinheiro público fornecidos pelo BNDES, são os ingredientes do caldeirão da tragédia.

A HISTÓRIA SE REPETE

Quem quiser conhecer as causas da tragédia em curso, o DNA da ferocidade do capitalismo nas obras de fronteira, basta recuar um século na exata geografia dos acontecimentos de agora. Jirau e Santo Antonio são também nomes de estações da célebre Madeira-Mamoré, conhecida como a "ferrovia do diabo". Outra grande obra contratada pelo governo e tocada por empreiteiros privados que deixou um rastro de tragédia. Também lá havia canteiro com vinte mil operários trazidos de muitos lugares. Também lá houve greves e revolta, sofrimento, malária, fome, falta de pagamento, promessas não cumpridas. O mesmo de agora, com o agravante de que desta vez uma cidade com quase 500 mil habitantes paga um preço alto pela a não existência de infra-estrutura capaz de resistir aos impactos desse colosso barrageiro.

Certamente, após a ida dos senadores, por aqui tudo continuará como antes, para que os donos do poder continuem auferindo lucros obscenos mascarados com obras superfaturadas nessa trágica novela com capítulos que ninguém sabe e ninguém viu.

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