quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Coluna Papodiskina – Daniel Oliveira da Paixão

Os "Judas da Política" estão aí e vão pedir os nossos votos em 2010

DANIEL OLIVEIRA DA PAIXÃO - Uma pergunta rápida, leitores: Lula foi feliz ou infeliz ao dizer que temos muitos judas na política brasileira e que, em nome da governabilidade, é necessário, muitas vezes, uma composição com os "Judas"? Eu não sei. Mas o fato é que ele mostrou que, mesmo eventualmente se aliando "aos traidores da pátria", sabe exatamente o que está fazendo e porque está fazendo. Logo, aquela máxima da oposição de que o Lula nada vê, nada sabe e nada entende, não passa de falatório sem sentido.


### - Eu sou um fã do presidente Lula pela sua história e por ele ter sido, apesar dos pesares, o melhor presidente do país de todos os tempos. Mas como cristão não gostei do fato dele ter declarado que até Jesus Cristo, se estivesse ocupando a posição de presidente do Brasil, teria de se aliar ao Judas para poder governar. Isso não é verdade. Jesus preferiu os açoites e agonizante morte de cruz do que se render aos interesses mesquinhos dos fariseus e dos saduceus (facções antagônicas do ponto de vista ideológico, mas que, em certas circunstâncias, compunham alianças se vislumbrassem interesses convergentes, exatamente como fazem muitos partidos políticos atuais.

### - O grande problema é que os judas da política brasileira chegam ao poder alçados por expressiva votação popular. Aqui cabe mais uma vez uma analogia com fatos bíblicos quando uma grande multidão, confrontada a respeito de quem prefeririam vê-lo solto por uma clemência dos governantes romanos, preferiu Barrabás e mandou Jesus para ser crucificado, mesmo tendo consciência de que ele era inocente.

### - Mas por que o povo muitas vezes faz essa opção pelo ímpio em vez de valorizar aqueles que são retos de coração? A resposta é simples: é que, apesar de todos os avanços culturais e científicos, a grande maioria povo ainda não tem consciência do valor do seu voto. Mas, pasmem, senhores: o pior é que mesmo as pessoas mais bem preparadas muitas vezes são forçadas a um jogo de cobra cega diante da monstruosa falta de opções.

Aliança contraditória

O Ministério da Saúde está iniciando uma parceria com a Igreja Católica visando conscientizar as pessoas a respeito da necessidade de se cuidar em relação a doenças sexualmente transmissíveis e deixar de lado o temor de fazer os testes para se constatar se são ou não portadores de HIV porque, suspeita-se, que mais de 200 mil pessoas estão contaminadas por AIDS no Brasil e não têm a menor noção. Isso, evidentemente, é algo terrível, já que se o infectado não tem consciência dessa doença, acaba infectando seus parceiros e parceiras sexuais.

O mais alarmante é que muitas esposas, fiéis aos maridos e que pensam também serem respeitadas pelos mesmos, acabam contraindo o HIV. Mas voltemos à questão do tema acima, a contradição dessa parceria. Se a Igreja realmente está preocupada com o avanço da doença, como manter essa sua intransigência ao desaconselhar o uso de preservativos por parte dos casais? Entendo que ela queira com esse gesto dar uma clara demonstração de que quem ama deve respeitar o seu cônjuge e nunca se enveredar pelo caminho do adultério.


### - Está bem, como cristãos, todos nós entendemos essa verdade. Mas como humanos também somos conscientes da fraqueza humana. Por isso, mesmo a Igreja, que tem o dever de ensinar a santidade e condenar o adultério, deveria abrir mão de excesso de zelo e incentivar o uso da camisinha porque esse dispositivo inventado por mãos humanas (mas com a inteligência dada por Deus) serve também para prevenir outras doenças sexualmente transmissíveis e muitas delas sem qualquer conexão com infidelidade.

Campanha em favor de nosso dinheiro

O governo brasileiro, através do banco central, quer incentivar as pessoas a cuidar melhor do nosso dinheiro e todos nós devemos realmente demonstrar um pouco mais de carinho, apesar de que o dinheiro é um filho ingrato e não tem o menor apego às pessoas que cuidam dele. Passa de mão em mão e, em muitos casos, leva o seu primeiro possuidor ao desespero. Mas não é sobre a ingratidão do dinheiro que quero falar.

### - Percebi que o governo tem um interesse especial pela disseminação do uso de moedas, que muitas vezes ficam em cofrinhos. E olha que isso, aparentemente, é um gesto um tanto estranho, pois as moedas, guardadas, se desvalorizam com o passar do tempo, mesmo com uma inflação relativamente baixa se a compararmos com o que acontecia na década de 80 e início dos anos 90.

### - Talvez aqueles que guardam moedas estejam de alguma forma se vingando da volatilidade do dinheiro. Já que as notas muitas vezes entram em nosso bolso em um dia, para encher nosso coração de alegria, e no dia seguinte vai embora e nos deixa desesperados porque ele sequer foi suficiente para pagarmos as nossas dívidas, muitos de nós transformam as moedas em nossas prisioneiras.

### - Talvez seria uma forma inconsciente de vingança. Mas em vez do governo se preocupar em ver as moedas em circulação, talvez devesse incentivar as pessoas a usá-las como uma forma de "poupança caseira". Para isso, bastaria adotar um padrão diferente. Em vez das moedas serem expressas em valor monetário corrente, deveriam ter um valor fixo, a exemplo do conceito de Unidade Real de Valor (URV) pregada pelo governo Itamar Franco, cujo ministro era o sociólogo Fernando Henrique Cardoso.

### - Assim, as pessoas poderiam guardar essas moedas cientes de que, em tese, o seu poder de compra daqui a cinco ou dez anos seria basicamente o mesmo. Claro que isso seria uma utopia, mas as vezes é bom a gente sonhar. Afinal, quantos de nós, num passado distante quando era necessário um saco de dinheiro brasileiro para comprar um único dólar americano, sonhou com o dia em que a nossa moeda seria tão forte quanto o dólar? Hoje o que era utopia, em certo sentido, parece tão real que agora já existem vozes discordantes implorando que achemos uma maneira artificial de fazermos o nosso forte real voltar a se desvalorizar.

### - Puxa, eu sempre sonhei com um país que tivesse orgulho de sua moeda e agora vem os economistas dizerem que isso compromete a nossa balança comercial. Agora pergunte aos americanos: vocês querem que o dólar seja mais fraco do que o real brasileiro? Se eles adotassem o mesmo argumento dos economistas acadêmicos, diriam que sim, pois isso possibilitaria uma expansão de seus negócios. Afinal, quanto mais fraco for o dólar em relação a outras moedas, mais os seus produtos se tornam baratos e os produtos estrangeiros extremamente caros.

### - Isso, claro, geraria um boom de empregos por lá e obrigaria suas indústrias a produzirem muito mais para dar conta de tantos pedidos. Mesmo assim, por uma questão de orgulho nacional, eles sempre vão preferir que o seu dólar seja uma moeda forte. Então, que nós, brasileiros, percamos esse conceito de inferioridade e deixemos que o próprio mercado regule a nossa moeda. Esse é o momento de termos uma moeda forte? Desfrutemos, pois!

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